O BRASIL COR- DE- ROSA
JAIME LEITÃO
Existe o Brasil cor-de-rosa, o Brasil-maravilha, que aparece nas campanhas políticas, na divulgação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo Lula e nos discursos em que ele exalta a auto-estima do brasileiro?
O Brasil cor-de-rosa esconde o Brasil real, em que vigora uma violência descontrolada e uma exclusão que atinge um grande número de crianças que não são atendidas pelo Bolsa-família e outros programas governamentais. Essas crianças existem? Tentam nos dizer que não, mas quando assistimos a uma reportagem como a que foi exibida pelo Bom Dia, Brasil de ontem, da Globo, em que aparecem crianças de um, dois e três anos remexendo no lixo para pegar brinquedo e comida, ficamos horrorizados. Eu pelo menos fiquei.
Não há dados estatísticos, mas tudo leva a crer que o número de famílias que tiram o seu sustento do lixo, incluindo as crianças, é bem maior do que se imagina. A pobre mãe, sem saída, fala até com uma certa naturalidade sobre o fato de seus filhos pequenos retirarem do lixo comida deteriorada para se alimentar.
Crianças um pouco maiores, no Ceará e Alagoas, pegam nos lixões os mais diversos materiais para vender. O trabalho infantil no Brasil ainda ocorre de forma assustadora e, no lixo, toma um aspecto monstruoso e assustador.
Em uma parte da reportagem, aparece um caminhão depositando frangos podres, que logo são disputados entre os habitantes da fome e do lixo, que os devorarão no próximo almoço. Almoço?
Vou até a estante buscar no volume de poesias completas de Manuel Bandeira o poema “O Bicho”. Transcrevo-o aqui: “Vi ontem um bicho/ na imundície do pátio/Catando comida entre os detritos.// Quando achava alguma coisa,/ Não examinava nem cheirava: /Engolia com voracidade.// O bicho não era um cão, /não era um gato,/ não era um rato.// O bicho, meu Deus, era um homem.” Bandeira escreveu-o em 25-2-1947, há sessenta três anos. E, desgraçadamente, continua atual. O poeta nos sinaliza e o tamanho do absurdo em que vivemos hoje. Peço licença a Bandeira para modificar o seu último verso: “O bicho, meu Deus, era uma criança/ uma pobre criança de dois anos/ morrendo de fome.”
De quem é a culpa? Provavelmente o governo federal irá culpar o estadual que, por sua vez, culpará o municipal. A culpa é de todos, inclusive do Ministério Público. Todos os poderes constituídos e toda a sociedade são responsáveis por, nos dias de hoje, em 2010, um grande número de crianças se alimentar do lixo, trabalhar no lixo, podendo pegar uma doença grave ou morrer por falta de mínima atenção. Enquanto isso, nos preparamos para sediar a Copa e a Olimpíada. Estamos sendo reconhecidos no mundo todo como uma nação em franco desenvolvimento. E as crianças que comem comida do lixo? Essas são praticamente invisíveis porque não entram nas estatísticas. São seres esquecidos que não contam.
PROPOSTAS:
1-Escreva uma dissertação que tenha como título: O BRASIL COR-DE-ROSA
2-Escreva uma dissertação que tenha como foco o trabalho infantil e, em especial, a tragédia da vida das crianças que catam lixo para vender e para comer.
3-Escreva uma narrativa que tenha como título: O garoto que vivia no lixo.
4-Escreva uma dissertação que tenha como tema: O lixo político como fator desencadeador de uma sociedade-lixo.
5-Escreva uma carta ao presidente da república pedindo que ele tome providências urgentes para retirar as crianças dos lixões e colocá-las nas escolas estudando.
terça-feira, 6 de abril de 2010
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