terça-feira, 16 de março de 2010

FOCO NARRATIVO: EXEMPLO DE UMA BOA NARRAÇÃO

Narrar arrastão em uma praia da Bahia do ponto de vista de um personagem específico.

Personagem escolhida: Esmeralda (velha baiana do vatapá e do acarajé).

Arrastão sob o Sol

Pietro Z. Venturoli

Esmeralda estava em sua bancada de vendas, fazendo seus quitutes característicos e entretendo os turistas mais recentes que se aproximavam.
- Como vão os negócios por aqui Dona Esmeralda? Pergunta-lhe um rapaz que trabalha no bar de frente para a praia.
-Como sempre meu filho. Diz ela bem humorada. Vários turistas, o dia prometia ser agitado.
Então de repente ela ouviu uma comoção ao longe. Várias pessoas gritando e correndo para fora da praia enquanto outra enorme quantidade passava velozmente entre as mesas e barracas pegando tudo o que estivesse a vista: bolsas, bonés, carteiras, óculos, toalhas, esteiras e outras dezenas de coisas que sumiam tão rapidamente que não era possível nem identificar o que era. Não que importasse, o que fosse fácil de pegar e carregar era levado
Esmeralda assistia calmamente a isso tudo, após trinta anos de praia ela já vira de tudo, incluindo arrastões como esse, porém mesmo já estando habituada, não conseguia se impedir de sentir pena dos pobres turistas que foram até lá para terem uma tranqüila tarde deitados na areia e sob o sol. Enquanto esses pensamentos passavam por sua cabeça, um jovem baiano discutia com sua namorada perto da barraca, agora saqueada.
-Você é um frouxo Neto! Devia ter corrido atrás daquele moleque que levou minha bolsa!
-Dora, querida, eu nunca ia conseguir pegar ele, e além do mais foi tudo tão rápido! Não podemos ficar tão bravos assim com eles, afinal são apenas pessoas necessitadas que não tem a quem pedir ajuda!
- Se você continuar com esse seu complexo de perdão daqui a pouco é você que vai ficar necessitado!
Esmeralda riu-se por dentro, o casal era engraçado, mas não entendia como a vida funcionava, aquele era um mundo às avessas, e não havia nada que as pessoas pudessem fazer para tentar escapar dos eventuais “arrastões” que a vida causava.
-Dona Esmeralda! – era o mesmo rapaz que antes falara com ela – A senhora viu que coisa? Levaram quase tudo da praia!
-Ah meu filho, quando você tiver a minha idade vai aprender a se preocupar menos com essas coisas banais que acontecem
-Banais? Mas eles limparam a praia quase que inteira!
-Exatamente, só mais um dia de trabalho.

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